domingo, 4 de julho de 2010

Pintura mental... Brilhante Manfredini!



Porque posto? Não sei. Não divulgo o blog, assim continuará. Talvez me faça bem, destrinchar algumas letras, compartilhar com alguns poucos minhas mirabolâncias intimas.
Bom, caros amigos fantasmas, a música de hoje é de autoria de um ídolo, talvez o maior deles: Renato Manfredini Júnior. Ele, que exala confusão mental, mais uma vez escreve de forma magnífica e impecável. Na música Acrilic on Canvas, tema do post de hoje, transforma-se em pintor.
Como bom sentimental que foi, Russo idealizou sua amada (talvez amado) em uma pintura intrínseca, ciente de que pintava a perfeição que não existia. Sugere a frustração de do casal não ter nascido um filho planejado e trabalha a complexidade do ser, define-o como sombra, luz e mistura de cores.
O compositor transforma momentos de uma história em um quadro psicológico. Une elementos para montar a imagem de um amor em crise. Amor, que como em outras composições, mais dói que agrada. Sopra a arrogância da segurança ao mesmo tempo em que se arrepende se desculpa e confessa sentir a ausência que a figura do quadro causa.
A canção da Legião Urbana foi eleita por sua complexidade e sinestesia, palavras que dominam parte do meu mundo.



Acrilic on Canvas

É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você em luz e sombra

E era sempre, Não foi por mal
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são

Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira
Da janela do seu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
Da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz, então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do baton que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei meu horizonte

E era sempre, Não foi por mal
Eu juro que não foi por mal
Eu não queria machucar você
Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez

E era sempre, sempre o mesmo novamente
A mesma traição

Às vezes é difícil esquecer:
"Sinto muito, ela não mora mais aqui"
Mas então, por que eu finjo
Que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu
É só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito"
E "não-te-esqueças-de-mim"